Fast Eddie Nelson: “Falta de cultura musical não existe. Há é falta de cultura de pagar pela arte.”

Gasoleene, The Sullens, Los Santeros, Big River Johnson ou Fast Eddie & the Riverside Monkeys foram alguns dos projectos em que Nelson Oliveira esteve envolvido nas últimas décadas. Mais conhecido pelo seu nome artístico, Fast Eddie Nelson, o músico do Barreiro esteve no Último Barco para falar sobre o seu percurso, percorrendo as várias experiências que teve ao longo da vida, bem como algumas ideias para o futuro.

Nasceste no Barreiro em 1974 e passaste a tua infância no Alto Seixalinho.

Sim, o meu pai nasceu e cresceu no Barreiro Velho. Fez parte da direção dos Penicheiros e eu andava muito com ele. Passava tardes inteiras nos Penicheiros e no largo Rompana. O meu tio avô tambem sempre foi uma pessoa conhecida no Barreiro, que era o “Gaspar da Drogaria”. Sempre me dividi entre o Alto Seixalinho e o Barreiro Velho, na infância.

Andaste em que escola? Gostavas?

Ninguém curte da escola, é aquela idade que ninguém gosta.

Sim, mas ambicionavas ir para a faculdade ou foi algo que descartaste em prol da música?

Na escola primária fui para a Escola Nº6, que era ao pé da minha casa. Nessa altura nem pensava em nada disso. Queria era brincar e ver o “Espaço 1999”. Depois no liceu comecei a dedicar-me mais à música, sempre sem grandes expectativas. Um gajo quando tem 15 anos quer é aprender a tocar uns acordes, levar a guitarra para o parque de campismo e tocar umas coisas. Houve talvez uma altura em que perdi uns 20 minutos a pensar em tirar um curso superior qualquer. Nunca tive uma grande vontade de ser um profissional derivado de algum curso. Havia aquela ideia “Ya, ir para a faculdade deve ser fixe e tal. Beber copos e jogar matraquilhos.” Mas isso eu já fazia no liceu.

Então tirando a música não tinhas nenhuma área que gostasses?

Sempre curti ciências. E quando pensei em ir para a faculdade, era para geologia. Sempre me interessou. Mas depois cheguei à conclusão que, para satisfazer a minha curiosidade nestes assuntos, era ler uns livros. Se calhar ia para a faculdade gastar dinheiro aos meus pais para tirar um curso que eventualmente me daria uma profissão, mas a minha curiosidade não chegava para querer tirar um curso. Bastava ir a uma biblioteca levantar livros sobre isso, que foi o que fiz. Sempre gostei de programas sobre vida animal e o cosmos. Mas também desde cedo comecei a querer a minha independência e a ter o meu dinheiro. Comecei a fazer alguns trabalho de verão e com 17 anos já ganhava dinheiro.

Nessa altura, com 18 anos, já tinhas ideia de quereres dedicar-te apenas à música?

Não, com 18 anos já tocava guitarra. O que eu queria era aprender músicas do Jimi Hendrix, dos Pink Floyd e dos Led Zeppelin. Já tinha uma guitarra elétrica, comprei com o dinheiro que ganhei no verão, numas férias. Trabalhei numa exposição sobre barragens e com o dinheiro desse trabalho comprei uma guitarra e um amplificador. Claro que já tinha aqueles sonhos de puto mas não era um plano, era mais uma ambição fantasiosa.

Quando é que surgem os Gasoleene? Foi a tua primeira banda?

A primeira banda onde toquei era do Lavradio, e eu era guitarrista convidado, onde gravámos umas maquetes. Quando eu entrei nos Gasoleene, a banda chamava-se Carrossel Mágico e era um grupo mais focado. Os Gasoleene tinham concertos com alguma regularidade e vários temas originais.

Aí sentiste pela primeira vez a rotina de um músico?

Sim, havia um objectivo de grupo. Havia ensaios regulares, era algo mais semiprofissional, e só o era a nível de resultados. A nível de atitude era super focado e profissional.

O que achas que vos faltou para dar o salto?

Nós acreditávamos que as coisas iam ficar melhores. Mas tu nunca sabes até que ponto. Portugal da altura não é igual ao de agora. Não existiam tantos grupos e havia uma barreira muito grande entre os grupos que gravavam, passavam na rádio e apareciam na televisão, como os Xutos e Pontapés, UHF ou Peste & Sida. E depois eram os outros todos. Não havia meio termo. Tudo isto era 3%, porque os outros 97% eram grupos de baile.

Nunca te interessou tocar nesses grupos de bailes ou bandas de covers?

Ness altura nem havia bandas de covers, eram só bandas de baile. Os bares nem tinham música ao vivo. Hoje em dia é um bocado ao contrário. Há uma enxurrada de malta a tocar covers de outras bandas.

“Chegámos ao ponto em que, em Portugal, havia três bandas de tributo aos Xutos e Pontapés, numa altura em que os Xutos eram a banda que mais tocava. Isto é inédito, não conheço mais nenhuma banda portuguesa que tenha um tributo. E os Xutos tinham três. Mas não, nunca tive interesse em tocar em bandas de tributo.”

Toquei numa banda de covers, mas era de blues, que acaba por ser algo diferente. Eu comecei a tocar no Barreiro numa banda chamada Old Blues Band, encabeçada pelo grande Tó Bagorro que me convidou para ser guitarrista. Essa foi a minha primeira experiência a tocar versões. E era um grupo que tinha alguma saída, tocávamos todos os meses. Foi como nos Gasoleene, se tivéssemos dois concertos num mês, era muito bom. E, felizmente, foi o que aconteceu com os Gasoleene, houve gente que engraçou com a banda e tínhamos uma presença assídua no Johnny Guitar, uma sala mítica em Lisboa,  e começamos a ser chamados para os festivais. Fizemos uma mini tour com os More República Masónica até.

Porque é que acabaram?

O processo dos Gasoleene foi um processo natural. Quando tens 18 ou 19 anos tens tempo. Aos 20 e poucos começas a ter menos. Houve malta que começou a casar e a ter filhos, e as coisas vão-se perdendo. Mas isto é a história de 90% dos grupos.

E isso teve alguma influência para começares a tocar mais em nome próprio? Teres mais controlo e não dependeres tanto de outros?

Sim, eu nunca deixei de escrever música. Sempre tive paciência para fazer músicas e tentar fazer sempre melhor. Já nos Gasoleene escrevi algumas coisas para a banda, nesse aspecto era uma banda fixe. Todos contribuíam para o processo criativo. Quando acabaram os Gasoleene, comecei a ser convidado mais como guitarrista. Além da Old Blues Band, toquei nos The Sullens, que também foi fixe. Mas eram dois grupos onde não criava muito. Tinha era liberdade para fazer o que quisesse na guitarra. Mas as canções não eram escritas por mim. Durante esse tempo estive sempre a gravar riffs de guitarra e muitas ideias. Algumas delas aproveitei 15 anos depois para músicas de Fast Eddie Nelson.

Quando é que começaste a pensar como Fast Eddie Nelson?

O nome veio precisamente na altura dos The Sullens. Toda a gente tinha uma alcunha de rock. O Manuel era o Zuzu Mamou, o João era, e é, o Johnny Intense. Toda a gente tinha nomes. Foi também nessa altura que o meu amigo Carlos Ramos aka Picos se tornou Nick Nicotine. Também tínhamos os Los Santeros, e acabou por surgir essa alcunha, que era algo depreciativa porque eu era mau jogador de bilhar e isto tinha que ver com um filme de snooker. Eu já estava um bocado convencido que tinha que fazer algo em torno dos blues. Decidi então fazer também uma banda de blues e formei os Big River Johnson. Tudo versões também, mas mais rockeiro. O segundo disco era para ser de originais, mas não aconteceu. O que eu queria era pegar nos blues e ir para outro sítio, que foi o que muitas bandas que eu gosto fizeram. Os Led Zeppelin, o Jimi Hendrix, os The Rolling Stones, foram buscar aos blues. Ou o Tom Waits ou o Captain Beefheart. Toda a gente tinha um pezinho nos blues. Foi aí que comecei a escrever mais canções com um objetivo de as gravar e fazer discos, e é assim que nascem os dois primeiros discos de Fast Eddie Nelson and the Riverside Monkeys. Depois foi um processo gradual até Fast Eddie Nelson. Agora, olhando para trás com alguma distância, tem sido tudo muito gradual e nunca fiz um grande plano a longo prazo. Mas as coisas foram naturalmente surgindo. Nada disto foi feito sem saltos abismais. Sempre houve uma linha progressiva, muito lenta, de crescimento.

Se te dissessem que aos 46 anos já tinhas feito tudo isto, acharias que tinha sido um bom percurso ou ambicionavas mais ou diferente?

Há 30 anos eu já tocava guitarra, tinha 16 anos. Sonhava tocar num concerto ou escrever uma música. Tudo que viesse a mais era um grande bónus. Se soubesse na altura que ia ter este percurso, ia ficar muito satisfeito. Não ia estar desiludido por não estar a tocar no estádio de Wembley com os Queen para não sei quantas mil pessoas porque isso nunca foi um objetivo realista. Esse sonho existia, sempre que ouvia o Live Aid ou os Pink Floyd em Pompeia. Mas nunca foi um objetivo, era uma fantasia de miúdo. As perspectivas que tinha na altura do que poderia fazer na música se calhar ficavam muito abaixo do que fiz na realidade. Acho que fico muito satisfeito. Principalmente porque tenho conhecido músicos  e tenho o prazer de tocar com alguns que adorava quando era chavalo.

“Se dissesses ao Nelson de 16 anos que 30 anos depois ia estar em palco com o João Cabeleira dos Xutos e Pontapés em frente a milhares de pessoas, eu se calhar ria-me.”

Isso não é verdade, não vai acontecer nunca. E aconteceu! Isso é que é um grande bónus. Quando tinha 17 anos e ia para a tasca do Pardal beber traçadinhos e cantar a “Carraspana” dos Peste & Sida e agora já toquei esse tema com eles umas 10 vezes. É algo que não podes imaginar na altura. E se há algum troféu espiritual que possa tirar destas coisas, é isso. É ter tido a possibilidade de tocar com pessoas de quem fui fã. Neste último álbum tenho um tema que escrevi a meias com o Adolfo Luxúria Canibal dos Mão Morta. É uma coisa que é indescritível como artista. É um prazer daqueles que já ninguém me tira. De resto, continuo um pé rapado. Não ganhei nada de extraordinário a nível financeiro. Agora a satisfação e gratificação pessoal que tenho com estas conquistas, que nem sequer foram planeadas e foram acontecendo, isso ninguém me tira. Isso são tudo conquistas pessoais.

Quando é que pensaste dedicar-te exclusivamente à música?

Nunca. Isso ainda não aconteceu. Às vezes agarro trabalhos que tenham ou não a ver com a música. Relacionados com a música, já dei aulas de guitarra e baixo, já participei em festivais e fiz trabalhos de produção. Se calhar houve um momento em que estava a fazer um disco, um EP, chamado Fast Eddie and Phill D. Eu tinha um emprego na altura e a empresa faliu, não por minha culpa, espero eu. Aí, por obrigação e possibilidade de ter mais tempo, foi um momento crucial em que me dediquei mais à música. E as coisas a partir daí começaram a ficar um bocadinho melhores. Não foi um momento planeado mas acabou por acontecer. Consegui dedicar-me com mais afinco à música. Mas nunca cheguei a um  patamar de viver muito bem da música. Mas em Portugal, são muito poucos os que o fazem. Grupos como os Xutos e Pontapés, não há muitos. Tu fazes uma tour em Portugal, em duas semanas já foste a todos os sítios. Não é como os EUA, em que consegues estar dois anos na estrada.

Nunca tentaste explorar outros mercados? O cantar em inglês pode ajudar.

Sim, houve uma altura em que ainda fiz muitos espectáculos em Espanha. Claro que num país “novo”, começas do nada. Ninguém te conhece. Tu não apareces na imprensa especializada de outros países. Eu até tinha uma ideia, que por causa da pandemia não aconteceu, que era fazer uma tour maior por Espanha, França e Itália.

Falaste da questão do país ser pequeno. Mas há outros países na Europa que são igualmente pequenos e parece que pode ser mais fácil viver da música. Achas que as pessoas cá não estão dispostas a pagar por concertos? É o preço dos bilhetes? Falta de apoios?

É difícil dizer-te. Falta de cultura musical não existe. Há é falta de cultura de pagar pela arte. Principalmente espectáculos ao vivo, as pessoas não querem pagar porque têm música ao vivo à borla regularmente.

Mas não sentes que, se for para ver um artista internacional ou um festival de Verão de grande dimensão, as pessoas já têm mais “vontade” de pagar? Muitos festivais e concertos destes esgotam em horas.

Eu acho que já foi pior. Há 10 ou 15 anos já foi pior. Mas sim, as pessoas pagam mais facilmente uns 60€ para ver um artista desses do que 5€ ou 10€ para ver duas ou três bandas locais. Há sempre dinheiro para cerveja, mas para bilhetes não há. Mas a minha perceção é que isso melhorou ou, pelo menos, melhorou para mim. Talvez porque o nome vá ficando mais conhecido.

“Mas lembro-me bem de ouvir coisas como “então andei à escola com aquele gajo e agora vou pagar para o ver?”.  Não vais pagar para ver o gajo, vais pagar para ver o trabalho que andou a desenvolver. Se não gostas não vais, se gostas, vais e pagas um bilhete. É preciso bilhetes para tudo. Bilhetes para a dança, para o teatro, para a música. As artes performativas dependem dum bilhete.”

Porque fazer discos não dá dinheiro. Eu faço um disco agora, e ainda por cima gosto de fazer algo fixe em vinil, e eu tenho que vender os discos quase todos para pagar o que gastei com eles. Tu fazes um disco em Portugal porque queres dar concertos, e se tiveres um disco novo tens desculpa para ires aos sítios. O que é que pode melhorar? Portugal tem poucas salas de espectáculos. Há auditórios grandes para concertos maiores e o bar da esquina que pode ter música ao vivo. Mas tens poucos espaços intermédios. Por exemplo eu sou um grande fã dos The Rolling Stones mas está tudo na internet. Eu nem preciso do Spotify. Os discos de uma das maiores bandas de rock de sempre estão todos no YouTube.

Mas tu, por exemplo, tens os teus álbuns no Spotify. Como é que consegues incentivar as pessoas a comprarem os teus álbuns se os podem ouvir lá?

Eu tenho as minhas canções no Spotify há muito pouco tempo. E decidi pôr porque já tinha conseguido vender bastantes discos, excepto este último. E fiz isto para tentar chegar a um público mais vasto. É uma tentativa de chegar a outros mercados. Daqui para a frente não sei bem como vou fazer. Eu acho que isso não tem feito muita mossa na venda de discos. Eu gosto sempre de ter discos fixes do ponto de vista visual do objecto, e as pessoas gostam de colecionar. Os vinis não saem nada baratos, às vezes fazemos microperfurações e colocamos cores mais maradas. Isto são coisas que saem caras, mas é um investimento que acho que vale a pena porque as pessoas ficam mais interessadas em comprar. Mas sim, nesse aspecto alguma coisa vai ter de acontecer porque há muita gente a enriquecer com o Spotify e com essas plataformas e não são os artistas.

Estas plataformas não te dão grande lucro?

Dá, de três em três meses dá para ir jantar fora.

Portanto nunca mais voltaremos a ter os álbuns como fonte de lucro. A não ser com a música ao vivo, não será possível.

Eu até acho que os álbuns estão condenados, estão a desaparecer. Nós estamos a voltar um pouco aos singles. Na altura os singles tinham de ter dois lados e por isso tinhas duas músicas. Só em meados dos anos 60 é que a malta começou a ligar aos álbuns. Até lá, os álbuns eram uma coleção de singles. O álbum nasce por causa do formato, e agora no tempo da internet, as pessoas têm de se adaptar a estes formatos. E como isto está assim, não funciona bem. As grandes editoras vão extinguir-se mas nada vai tomar o seu lugar. Estas plataformas não dão dinheiro a ganhar aos artistas. Isto ainda é tudo muito novo, é preciso pensar nisto bem.

Falaste na questão da divulgação e de chegar a mais pessoas. Achas que as rádios portuguesas deviam ter um papel mais preponderante com a música portuguesa, em especial as bandas mais desconhecidas ou não tão comerciais? 

A rádio já não é o que era. Há muita gente que já não ouve rádio. Agora há rádios que até têm feito um trabalho interessante nesse sentido. Por exemplo, a Antena 3, através do programa do Nuno Calado, dá a conhecer muita música nova. E a verdade é que uma rádio como a Antena 3, que é direcionada a um público mais jovem, até sofreu mais o baque com a internet, do que uma Rádio Comercial, porque as pessoas que ouvem esta rádio se calhar são mais velhas e ouvem muita rádio. A malta mais jovem ouve mais rádio na internet e até estações que nem são portuguesas. Agora sim, a música mais alternativa fica a perder nesta equação porque o público está mais disperso por vários locais. Eu gosto muito de rádio e do programa de autor e acho que estes devem ter liberdade para passar o que quiserem no seu programa. Sou contra as quotas.

Voltando aqui um bocado a..

Já estamos há uma hora nisto, oh meu!

Pois eu sei, quando quiseres mandar-me embora…

Não, não, tudo bem. Esta semana só tenho um teledisco para fazer.

Faço-te mais três ou quatro perguntas e deixo-te ir jantar.

Tasse bem, tudo bem.

Voltando um pouco aqui ao Barreiro e à sua actividade cultural. Estando nisto há mais de 20 anos, como achas que está o panorama musical no Barreiro?

Eu acho que já esteve melhor – há uns anos – mas continua forte. Acho que o Barreiro Rocks ter desaparecido foi um baque muito grande. Era um polo aglutinador de rock and roll no Barreiro. Era um grande incentivo para a malta fazer coisas e era uma escola fixe para os músicos do Barreiro irem ver bandas internacionais. Punha a cidade mais no mapa e era bom para os músicos todos. Houve mais coisas que acabaram. A Escola Conde Ferreira também tinha uma série de actividades que agora, parece-me, que não existem. Agora, a ADAO continua a ser um núcleo cultural cheio de actividades e de força. É onde eu ensaio e é um espaço único. Vem malta do país inteiro e de fora para ver este sítio que é algo de renome. Acho que no panorama geral, descemos um pouco face há uns anos. Em termos de produção musical, acho que  continuamos em grande força. Uma coisa muito fixe que o Barreiro tem, e que eu acho que nisso até somos algo únicos, é que temos muita força em vários géneros. Há muitos grupos, que não têm particularmente a ver uns com os outros, não há aquela movida. Tipo aquela cidade tem muitas bandas de rockabily, então tem quatro ou cinco bandas a tocar o mesmo. E nesse aspecto o Barreiro é muito “esperto”. Tem coisas muito diferentes, desde a música experimental, ao hip-hop, ao rock, ao heavy metal, que continua forte. É muito variado. Agora há falta de pontos aglutinadores como o Barreiro Rocks. Mas, o OUT.FEST continua. O Barreiro Rocks já não existe mas a Hey Pachuco! continua a fazer coisas.

Achas que há falta de espaços físicos? Bares, pequenas salas, locais que juntem mais pessoas em determinado espaço?

Eu acho que sim, porque além de músico sou consumidor de música e gosto de ir a espectáculos. Agora se houver uma grande vontade das pessoas irem e pagarem bilhete, os espaços aparecem. Se não há mais coisas, é porque as pessoas não aparecem. O Barreiro não lhe falta palcos. O Barreiro deve ser das cidades com mais colectividades. Em cada esquina há uma. A maioria dessas colectividades, têm palcos. Agora, se são bem aproveitados ou não, a juntar as direções mais envelhecidas… Mas os espaços existem. É fazer acontecer, mas também é preciso permitir acontecer. A autarquia também terá a sua quota parte de responsabilidade nisto. Se queres organizar um evento e tens que levar com uma tareia de licenças, ficas sem grande vontade de organizar coisas. Mas até acho que o Barreiro nem tem sido assim.

Falaste de outras artes. Recentemente, também começaste a fazer música para teatro.

Sim, tinha tido uma experiência há uns 15 anos, mas foi algo muito rápido. Agora, com a Companha de Teatro ArteViva, tenho trabalhado mais assiduamente e é algo que me tem dado um gozo imenso. Há coisa de dois anos recebi o convite novamente e é algo que tenho adorado fazer. E é extraordinário porque, estamos a acabar esta entrevista como começámos, pois é voltar um pouco aos tempos dos Gasoleene. Isto não é Fast Eddie Nelson. Isto é fazer parte de uma equipa. Os actores são uma parte, o encenador é outra, a cenografia também, e a música cola isto tudo. E é muito gratificante porque eu gosto muito de trabalhar em equipa. Tenho imenso prazer em trabalhar com estas pessoas e aprende-se imenso. E então quando trabalhas com pessoas num projecto artístico que não é só musical, onde lidas com uma série de áreas, desde as artes plásticas até à literatura, abrem-se muitos horizontes. E até para mim é ainda mais desafiante porque me obriga a sair da minha zona de conforto e explorar outras áreas ou géneros para enquadrar com o resto da peça.

Para terminar, o que é que podemos esperar de Fast Eddie Nelson para os próximos tempos?

Tenho bué coisas. Porque estou farto de estar em casa. Primeiro estou a fazer umas coisas com o Vítor Bacalhau. Íamos fazer um disco mas agora vamos só gravar algumas canções e depois logo se vê. Tenho uma série de coisas pré-gravadas para editar e lançar em vídeo. Além disso, tenho dois discos. Ambos practicamente escritos. Um em portuguese e outro em inglês. O em português é um disco de rock and roll, mesmo rock da patada. O que é em inglês é de folk. Guitarras acústicas, bandolins, banjos, violinos, clarinetes e outros. E ainda toquei alguns destes temas ao vivo no ano passado.

Isto são tudo coisas que ainda vamos poder ouvir este ano?

Pois não sei. A vida é uma incógnita, mas nunca foi uma incógnita tão grande como agora. Gravar, produzir ou editar são coisas que têm custos, e sem fazer concertos é difícil. Agora, tudo depende da pandemia.

E o projecto dos Pink Floyd?

Esse é mais fácil, as musicas já estão todas feitas há 40 anos.

Mas havendo possibilidade, é para voltarem a tocar?

Sim, nós queremos bué. Isto foi daqueles projectos que nos caíram no colo. O pessoal da OUT.RA convidou-nos e nós dissemos “claro”. Sempre foi a minha banda preferida quando era adolescente, e ainda hoje, especialmente aquele reportório pré Dark Side of the Moon que nós tocámos. E nós já falamos com o pessoal da OUT.RA e todos temos interesse em levar este espectáculo a outros sítios. Se calhar algo até maior, e com mais músicas acústicas. As pessoas pensam nos Pink Floyd e pensam em porcos voadores, decibéis e quilowatts. Mas eles têm coisas maravilhosas acústicas. Mas lá está, o trabalho de ensaios está feito, falta só a possibilidade de haver concertos. É só isto abrir e carregamos no play outra vez. Eu adorava tocar em sítios inóspitos. Auditórios funcionam bem, até porque tens as condições todas. Mas eu adorava tocar em sítios históricos, castelos, Conímbriga. Um pouco como eles fizeram em Pompeia. Ou então sítios de beleza natural, cascatas ou serras. Era muito giro fazer. Para todos nós, tem sido um enorme prazer.

Está bem, acho que está feito. 

Está? Pronto, se estivesse mal fazíamos outra vez.

 

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