Formados em 2018, os Walter Walter são uma banda do Barreiro, composta por André Amado (voz e guitarra), David Yala (baixo e coros), Afonso Ferreira (bateria) e António Cunha Lopes (teclado e coros), e caracteriza-se pela sua constante evolução desde a sua origem e pela sua energia em palco. Com dois singles lançados, “Verão” e “Rosa”, em 2022, surge agora, em novembro deste ano, “Minhas Mãos”, que antecede o lançamento do EP de estreia “18/23”, agendado para o início de 2024. Este último single deixa para trás a sonoridade das primeiras canções, deixando no ar aquilo que a banda tem para trazer num futuro próximo.
Como surgiram os Walter Walter?
André: A banda nasce porque eu e o Yala começámos a tocar juntos e ganhámos aquela “pica” de escrevermos músicas. Nós íamos a muitos concertos e queríamos tentar replicar aquela energia que sentíamos nas nossas músicas. Começámos a tocar juntos, no meu sótão, e fomos compondo algumas coisas. Depois, deu-se a pandemia, e cada um ficou no seu canto. Quando as coisas começaram a abrir, falámos com o Afonso.
Afonso: Não, falaram primeiro com o Gui (Guilherme).
André: Verdade, o Gui foi o primeiro baterista da banda. Mas foi, tipo, dois ensaios.
Yala: O Gui depois decidiu que ia ser produtor. Ficou produtor da banda.
André: Sim, o Afonso foi a segunda opção. Mas foi a melhor opção.
Afonso: A primeira opção nunca é a melhor. Aliás, a primeira nunca é a melhor em nada.
António: A primeira jola. A primeira jola nunca é a melhor.
André: Eu nunca fico satisfeito com a primeira jola.
(segue-se um breve mas detalhado debate sobre a primeira cerveja, a jornada do herói e outras deambulações pertinentes sobre os mistérios da vida.)
Quando é que gravaram o primeiro tema?
Yala: A primeira música que gravámos foi a “Verão”, ainda no antigo estúdio King. Foi lançada em 2021. E agora dia 10 de Novembro, sai o próximo single, “Minhas Mãos”.
E quando é que deram o primeiro concerto?
André: Foi no Chamem os Amigos Fest, na edição de Outubro ou Novembro de 2021. Fomos a primeira banda a tocar nesse dia.
Yala: E foi muito bom porque tive novamente aquele sensação de começar algo novo. Banda nova, dinâmica nova.
André: Para mim, esse concerto também foi estranho porque nós tínhamos uma música com teclado, e eu não sabia, nem sei, tocar teclas. Eu senti um bocado o síndrome do impostor. Foi um bocado por isso também que o Chico (António) entrou.
António: Eu nem me lembro de tu tocares teclado.
Afonso: Ele tocava isso no início de uma música apenas, e percebemos que não valia a pena andar a carregar aquilo só por um bocado do tema. Era um teclado que pesava mais do que um carro, quase.
Em que momento decidem convidar o Chico para entrar na banda?
Yala: Foi uma necessidade de querer incorporar novos sons.
André: Sentimos que precisávamos de ter mais som em palco, e também nas músicas. Então convidámos o Chico para tocar teclas e cantar. Ele tinha começado a tocar e achámos que se conseguia desenrascar bem. E nós somos todos amigos, que é a base disto tudo. É um dos nossos.
Yala: Era diferente se convidássemos alguém de fora. É sempre mais difícil tocar com pessoas que não são nossas amigas, é mais difícil criar dinâmicas.
André: Temos uma linguagem semelhante.
Afonso: Eu não sei tocar sem ser com amigos.
André: Mas sim, o Chico veio preencher esse espaço que havia.
E quais as influencias musicais da banda?
Yala: São muitas. Mas existem sempre pontos de contacto.
André: Sim, é um espectro grande. Mas o ponto em comum é todo o tipo de sonoridades que cabe no Barreiro Rocks.
Yala: Que era o local onde todos nos juntávamos.
André: Sim, essa energia dos concertos da Hey Pachuco! despertaram-me vontade de tocar e pensar “eu também posso ter uma banda”.
Afonso: O Barreiro Rocks foi uma porta de entrada para todos nós. Para percebermos que também podíamos fazer parte da cena. O Barreiro Rocks foi o primeiro festival em que fui, no Barreiro, onde, depois de uma banda tocar, vai para o bar beber copos com as outras pessoas. E estamos todos no mesmo “nível”.
Yala: Os concertos são algo que nos une a todos.
Do que já ouvi do vosso último single, o “Minhas Mãos”, tem uma sonoridade bastante diferente do “Verão” e “Rosa”.
Yala: É uma jornada. Eu e o André começámos a compor em 2018, e a “Rosa” e “Verão” são mais dessa altura inicial. Depois surgiram outras pelo meio e esta, a “Minhas Mãos”, é aquilo que somos agora. Enquadra-se mais no momento em que estamos agora, e que tem a personalidade de todos.
André: E este tema tem a contribuição do Miguel Gomes, mais conhecido como Chinaskee, nos coros. Esta contribuição dele acontece também porque, à conta do Chamem os Amigos Fest, começámos a conhecer muita malta que vinha cá tocar. E como também vamos a muitos concertos em Lisboa, acabámos por criar laços com muita gente, incluindo o Miguel.
E já têm mais concertos agendados?
António: Ainda não temos nada, mas a ideia é lançar o single agora e o EP no início do ano. Depois vemos como corre e o que surge.
Afonso: Sim, e tentar fazer algo mais organizado. Nos últimos anos tocámos sem grande critério.
André: Este ano ainda acabámos por tocar algumas vezes em Lisboa, mas como não tínhamos muito trabalho editado e lançado, sentimos que a malta que estava nos concertos não conhecia o nosso som. Ia um bocado à descoberta.
Yala: O que também é fixe.
André: E já tivemos várias músicas que tocámos ao vivo e que já não vamos tocar mais.
Yala: Sim, isso faz parte do processo. Criamos e depois vemos o que vale a pena guardar e gravar. São cinco anos de “espera”, com uma pandemia pelo meio. Por isso é que o processo de gravação é importante, porque ouvimos a música de “fora”. Podemos ter novas ideias, acrescentar ou tirar.
André: É uma evolução natural também, não só da própria pessoa como da relação com o instrumento. E todo o processo de composição e gravação é muito colectivo. Vamos dando feedback uns aos outros sobre o que cada um faz, para melhorarmos.
Yala: E o facto de todos darmos um “pezinho” em vários instrumentos ajuda. Eu toco guitarra e baixo, mas também dou uns toques de bateria. E o mesmo se aplica a eles. Assim temos várias vozes a dar opinião sobre a coisa.
Para terminar: qual foi o concerto da vossa vida?
António: Jorge Palma, no NOS Alive.
Yala: O concerto que mais gostei de ver este ano foi Maria Reis com Coro, no B.leza. O que gostei mais de dar foi no Musicbox, com os Humana Taranja, apesar de não estar lá ninguém a ver. Mas também gostei de tocar no Seixal Terno com os Walter Walter.
Afonso: Talvez tenha sido Linda Martini, no Musicbox, há dois anos. Que tivesse dado, foi com os Humana Taranja no Capitólio, no Festival Emergente. Com os Walter Walter, gostei muito do concerto no Lounge e do segundo que demos no Titanic Sur Mer.
André: Chico, qual foi o teu dado que mais gostaste?
António: Claramente, o concerto que demos no Lounge.
André: Um que me marcou muito foi o concerto dos Idles, no Coliseu, no ano passado. Fiquei muito emocionado, apesar de ter sido um concerto bastante violento. Mas foi muito fixe. Em termos nacionais, a primeira vez que vi Maria Putas Reis Bêbedas fiquei meio maluco. Foi um concerto marcante. Dos que já dei, foi entre o do Lounge e o da SMOP. Esse foi um concerto com muita energia. Tocámos uns 20 minutos, quatro músicas, mas foi muito bacano.