A paisagem começa a avistar-se à medida que o vento corre e a água resvala. Os primeiros acordes são o mote da viagem que nos espera: uma guitarra, a voz rouca, blues, western. Está lá de tudo um pouco, e faz sentido que assim o seja, dada as origens e influências de cada membro dos Santa Clara Blues.
São oito os temas que compõem Montes Altos, o primeiro álbum desta banda, onde todos são, acima de tudo, amigos. E também isso é audível no disco: há uma cumplicidade naquilo que são os silêncios, pausas, riffs, solos, e podemos imaginá-los todos reunidos em torno de uma fogueira a trocar histórias e memórias, tal como muitas das letras as retratam.
Pela voz de Miguel Ângelo, vamos ouvindo o que a banda tem para nos contar. Sobre locais, amizade, pequenos prazeres, tarefas mundanas. No fundo, a beleza das pequenas coisas. As belas melodias de José Mendes são perfumadas pelos apontamentos e solos de Fast Eddie Nelson, que nos transportam para outras décadas, em jeito de Déjà Vu, dos CSNY, ou para um Harvest, de Neil Young. Muitos outros se ouvem por aqui, sinal de que as influencias são muitas e boas. O baixo de João Sérgio Reis e a percussão de Miguel Lima oferecem a robustez e a cola necessária para que tudo soe de forma natural e quase espontânea.
Para além de ser extremamente bem tocado e composto, com uma linha sonora coerente mas nunca repetitiva, o que mais me fascinou em Montes Altos é a facilidade com que nos transporta para algum lugar, seja ele qual for. E essa, é uma das grandes magias deste álbum: viajamos à boleia do vento, sem destino, mas sempre bem acompanhados.
Exemplo disso é a “Sweet Embrace”, a faixa mais longa do álbum, mas que assim que termina pede que seja repetida. Está lá tudo: a calma, a tranquilidade, o acordar, o crescer. É um tema belo e poderoso, impactante e pacífico.
Apesar de ainda estarmos no início do ano, este é dos álbuns mais interessantes, poderosos e únicos que ouvi nos últimos meses. Custa até acreditar que é um álbum de estreia, tal é a sinergia e maturidade com que os Santa Clara Blues apresentam as suas ideias. Nós, os ouvintes, só temos a agradecer por podermos fazer parte da viagem.