José Mendes: “O mais importante é sentir que estou a fazer algo para a cidade onde vivo, onde os meus amigos e família vivem, onde o meu filho cresce”

É difícil andar pela cidade do Barreiro e não encontrar um projecto feito pelo José Mendes. Quer seja num poster, num mupi, num cartaz ou cada vez que passa um autocarro dos TCB,  José Mendes tem desenvolvido inúmeros projectos para dentro, e fora, da cidade. Com mais de 20 anos de experiência como designer gráfico, o José conta-nos como foi o seu percurso e do gozo que lhe dá trabalhar no e para o Barreiro. Além disso, tem como outra grande paixão a música, arte que esteve practicamente sempre presente na sua vida e que, ainda hoje, o motiva para tocar e criar.

Nasceste no Barreiro em 1973. Como foi a tua infância e juventude aqui na cidade?

Nasci na Clínica Laura Seixas no Barreiro, até há muito pouco tempo achava que tinha sido no Hospital Velho. Depois fui registado, acho que é esse o termo, na Baixa na Banheira, onde cresci com a minha irmã Carla, no prédio onde viviam os meus pais e avós. Os meus avós paternos tinham vindo da zona de Loulé para o meu avô trabalhar na Fábrica e os maternos vieram de Ferreira do Alentejo, onde a minha avó Ana era ceifeira e o meu avô José era um homem dos sete ofícios pelo que me contaram. Quando chegaram, vieram vender peixe na praça da Baixa. O meu pai trabalhava na Fábrica da Fisipe e a minha mãe era o que se chamava na altura de doméstica, porque a mulher era para ficar em casa a tomar conta da família, maus costumes. O Xangai era diferente do Barreiro, tinha um ambiente de aldeia na periferia da cidade. Lembro-me de ruas de areia, tinha costumes importados das várias culturas que faziam parte da comunidade, alguns hábitos rurais ainda. Passava os dias a brincar nos quintais dos vizinhos, a andar de BMX pelo campo, a pescar, ir aos pássaros com pressão de ar, a descobrir aquela liberdade Tom Sawyer com os meus amigos. Só na adolescência, e já a estudar na secundária do Vale da Amoreira, é que comecei a vir para o Barreiro à noite. Vínhamos de comboio, autocarro ou até a pé para curtir para a Vinícola, Casa de Pasto, Alburrica, Fábrica de Gelo, Carvoaria, etc.

Quando é que nasceu a tua paixão pelas artes e pelo design?

Foi logo no início da adolescência. Muito catalisada pelo meu primo Jorge, que desenhava, mostrava-me algumas publicações internacionais, emprestava vinis com capas que ficaram guardadas na minha cabeça, ou o facto de me levar a exposições na Gulbenkian, FIL, ou na Festa do Avante. Lá em casa também havia algo que me atraía bastante, que era a colecção de autocolantes do meu pai, micas com dezenas de layouts de associações locais, de rua, do partido comunista, MRPP, entre muitos outros dentro da estética revolucionária da altura. Depois a fábrica, e todo o ambiente gráfico que ela me imprimiu. Mas eu sempre tive a necessidade de estar a criar coisas, não só visuais, mas até experiências eletrónicas com amplificadores, rádios velhos, etc. Motivo para quando na escola, no 9ºano, estava em arte e design mas acabei por mudar. O meu pai trabalhava na Fisipe, e lançou a ideia de eu mudar para eletrotecnia, que assim seria uma forma fácil de ter um emprego na Fábrica. Como eu gostava de eletrónica, mudei, e estraguei tudo. Seria outro Zé Carlos, acabar o 12ºano e ir trabalhar para a fábrica. E eu odiei aquilo. Tinha Matemática, Física e Químicas e fiquei com um horizonte muito curto. Ia fazer aquilo e ao mesmo tempo tinha bandas na escola e fazia os flyers e capa das maquetes. Depois de terminar o 12º ano, inscrevi-me num curso de Verão de Design Industrial com a Ana, a minha namorada. Quando acabei o curso os professores vieram ter comigo a dizer que eu tinha que estudar Design Gráfico. Esta conversa que tiveream comigo foi talvez um dos momentos mais importantes do meu percurso. Depois fui para o Ar.Co. estudar, e no último ano do curso comecei a estagiar na BBDO. Depois projectei um monte de projectos de design para grandes marcas portuguesas na NovoDesign, Brandia, Mola Ativism, Ivity Brand Corp e, mais tarde, fundei com dois amigos, o Lúis Alvoeiro e o Carlos Guerreiro, um atelier chamado MAGA (Mendes/Alvoeiro/Guerreiro/Atelier). O Luís tinha sido meu Director Criativo na Novodesign e baixista dos FRENTE ( banda que tínhamos com o Miguel Patrício, o Cajo e o Rui), e o Carlinhos era a minha grande referência de design gráfico quando eu comecei a estudar, e ainda continua a ser, tanto como designer, artista e ser humano, é um dos meus grandes amigos. Passados 22 anos, tornei-me designer independente e mantenho uma colaboração com os Solid Dogma.

Preferes o trabalho de freelancer porque te dá mais liberdade? Foi algo que aconteceu naturalmente ou foi mais uma necessidade?

Olhando para trás, agora faz mais sentido ser freelancer, na altura, se calhar não. Ainda não tinha o know how e a experiência. Mas depois, a partir de um certo momento, comecei a olhar para certos processos, métodos de trabalho que fazem parte das grandes agências, onde, por exemplo, cada pessoa está alocada a uma tarefa do projecto, sem perceber o todo, ou ter contacto directo com o cliente, ou com a produção. E isso é algo que, hoje em dia, não quero. Como designer independente tenho uma relação directa e de continuidade com o cliente. Assim é mais fácil perceber as questões, expectativas, ambição, visão, para depois desenhar um interface visual, projectar, e acompanhar a produção até ao produto final. A não ser que o meu cliente seja uma agência, aí o departamento de accounts, director criativo, artes finalistas, produtores, etc, normalmente fazem parte do processo.

No fundo, tens todo o trabalho desde a ideia base até ao produto final, incluindo a parte financeira ou mais administrativa.

Sim, e quando preciso de outras disciplinas, convido estrategas, designers de equipamento ou programadores para colaborarem comigo no projecto, onde fazemos todos parte de uma equipa que fala directamente com o cliente e trabalha junta no projecto. A parte financeira ou administrativa é uma seca mas tem de ser feita, é sempre pouco romântico o designer que acabou de deliciar o cliente com uma apresentação de um projecto, depois mudar o tom de conversa para algo como “a factura está em atraso”, ou decidir que não vai fazer estudos de um logótipo porque precisa de fazer orçamentos. Mas vê isto como aqueles bluesmans que arranjam o gig, montam o palco, tocam, vendem o merch, e no fim vão buscar o pagamento ao dono do bar, para voltar a fazer tudo novamente no dia seguinte. Pode ser cansativo, mas é libertador enquanto fizeres o que gostas, e se às vezes o fizeres em parceria com pessoas pelas quais tens empatia a trabalhar, melhor ainda, partilhas conhecimento, cresces e crias laços, como estar a compor ou a tocar com outras pessoas. Não é fixe estar sempre sozinho.

Foto: Pedro Roque
Foto: Pedro Roque

Além da música, tens alguma área de interesse dentro daquilo que é o teu trabalho visual?

Gostava de fazer projectos mais experimentais, com tipografia. E tenho dois projectos que ainda não consegui meter no papel, que são dois livros de autorais. Um sobre seres suburbanos imaginados, com ilustrações que comecei a fazer a partir de colagens fotográficas de formas brutalistas da paisagem industrial dos restos da Fábrica e da cidade do Barreiro. O outro é sobre os tipos de letra e símbolos que tenho desenhado nestes 23 anos de projectos gráficos.

Tens colaborado com muitos projectos e associações aqui no Barreiro, para concertos, festivais ou exposições. São projectos que te dão um gozo especial? Foi algo que também procuraste fazer cada vez mais?

Sim , tenho colaborado com a OUT.RA, a Hey Pachuco, onde fundámos os “4 Cães à Babuje” para desenhar a comunicação do Barreiro Rocks, a CMB, a ADAO, a Escola Conde de Ferreira ou CineClube do Barreiro. Para mim, o mais importante, é sentir que estou a fazer algo para a cidade, onde vivo, onde os meus amigos e família vivem, onde o meu filho cresce. A parte fixe é essa. Nós todos somos cidadãos, todos somos políticos quando actuamos na polis, não preciso de fazer parte de um partido político para actuar na cidade, até separar ou não o lixo é um acto político na cidade. E com o meu trabalho tento ser esse cidadão. Em muitos projectos que tenho feito para o Barreiro tento ter sempre uma narrativa ou uma ideia sobre a cidade. A coisa mais arrogante que eu possa ter com isso é esperar que o trabalho que eu fiz inspire alguém, que ponha alguém a pensar sobre determinada coisa, ou a continuar essa narrativa. É o facto de poder melhorar alguma coisa na tua cidade que me dá gozo. Fazer coisas no meio da comunidade onde vivo, com uma participação mais ou menos indirecta é muito fixe.

Como é que vês actualmente o movimento artístico do Barreiro?

Sempre tiveste, e tens, uma grande expressão artística no Barreiro. É uma necessidade de expressão identitária, de fazer, de ser. Quando se diz Barreiro, é inevitável dizer os arredores: Baixa da Banheira, Lavradio ou Vale da Amoreira. Se comparar com os anos 80 e 90 onde cresci, agora nota-se um decréscimo grande na movida da noite, bares de concertos, putos a sair à noite e a fazer coisas. É claro que é nos anos 2000 apareceram os grandes festivais, o Barreiro Rocks que acabou, o OUT.FEST, e mais tarde o “Baixa Isso olha os Vizinhos” num formato DYI. Agora há o Jazz no Parque criado pela CMB, o BBBF no Xangai, e os novos Entre Olhares e o Sonika Ekrano. Mas são os dois primeiros que foram projectados pelas duas associações mais importantes da cultura no Barreiro, a Hey, Pachuco! e a OUT.RA. Estas duas dinamizaram e diversificaram nas últimas duas décadas grande parte da movida da cidade, com projecção ibérica e europeia. E há muito para além dos dois festivais âncora, com concertos, workshops, parcerias culturais, concursos, programa jovens músicos, bolsas, parcerias com a Baia do Tejo, integração dos interfaces culturais da cidade e descoberta da mesma. Mesmo assim, com tudo isto que acabei de descrever, que parece, e é bastante, ainda sinto que não tens aquela  movida gigante dos 80/90 na noite do Barreiro, aquele melting pot que fazia nascer coisas. Talvez seja nostalgia minha. Nessa altura eu vinha da Baixa da Banheira com os ScudAdeus, a minha primeira banda, e chegávamos à Gare e marcávamos um concerto. Existiam montes de bandas a tocar, do Barreiro e de fora dele. Mais tarde aconteceu o mesmo com o El Matador, marcavas uma data para ir lá tocar, ensaiar, e ias sempre ver bandas, projectos novos a aparecer na cidade que ainda hoje existem. É isso que falta: espaços públicos e privados, para acontecer coisas, tubos de ensaio sem forma, abertos, para serem usados. A analogia é a a mesma quando a município faz pistas de ciclismo ou para o pessoal correr. Antes não havia, fazes as pistas, as pessoas começam a correr e andar de bicicleta. É a mesma coisa: se começares a arranjar espaços de criação, partilha e divulgação, as coisas começam a acontecer, os projectos começam a nascer. Claro que os modelos são diferentes desses anos para agora. Hoje em dia um puto faz música em casa sozinho e é mais fácil. Compõe, grava, produz, edita e dá o gig online. Mas acredito que se criares o espaço para acontecer, as coisas começam a acontecer. É isso que faz falta no Barreiro, uma política que consiga promover e gerir isso.

“A cultura no Barreiro pode ser um dos grandes pilares económicos dinamizadores da cidade.”

Mas faltam espaços ou estes existem mas não estão disponíveis de uma forma tão utilitária?

Os espaços existem, todas as colectividades tiveram esse papel no passado e podem voltar a ter. A ADAO, a Escola Conde Ferreira, os espaços da Baía do Tejo, a biblioteca, o AMAC, os parques, a rua, as praias, pequenos ou grandes, todos têm potencial. A OUT.RA tem nos mostrado isso. Mas a nível municipal falta uma politica cultural integrada com todos estes espaços, uma visão cultural para o Barreiro. Claro que tens tido coisas feitas pelo município, as exposições do AMAC ou a Fotografia no Barreiro, o Jazz no parque são exemplo disso. Mesmo agora em tempo de pandemia todo o apoio dado dentro do programa Mural 18 à cultura foi importante, mas é necessário uma politica cultural. E sim, faz-me falta “El Matadores”, os espaços públicos para a partilha, experimentação, criação e apresentação. Ver os GNR, The Weasel, ou até os Slayer é fixe e entretém, nada contra, muito pelo contrário, estou lá de cerveja na mão. Mas estes não provocam actos de expressão cultural e politica da cidade, é dos putos que têm necessidade de fazer coisas e precisam de ter um espaço para o fazerem e mostrar, que esses actos nascem, e com eles a cidade. E sim, faz falta formação cultural, museus, academia. E também faz falta uma zona definida de entretenimento nocturno e diurno. O Barreiro velho está indefinido. Eu tenho um filho de 16 anos e ele anda de skate porque a Gasoline promoveu essa cultura na cidade, palmas para eles, pelo que têm feito pelos putos com o Surf e Skate, mas para este puto de 16 anos, tirando coisas pontuais, a cidade está parada. A cultura no Barreiro tem sido criada por associações de pessoas, por necessidade, por resiliência, por DYI, por afirmação identitária, faz parte do ADN da cidade. Imagina o que pode ser alcançado com uma politica cultural dinâmica e integrada. A cultura como um pilar económico da cidade, podemos ser uma capital da cultura, sem necessitar de concorrer ao título oficial. Basta ser.

Para além do design, a música é a tua outra grande paixão. Podendo, viverias só da música?

Se ganhasse o Totoloto? Ya, fazia música e o design das capas dos álbuns. Mas eu nunca vou ganhar porque eu não faço o Totoloto. Neste momento é impossível tomar essa decisão, e tenho uma admiração pelos poucos músicos que conheço que realmente vivem só da sua arte, é uma profissão de amor, dura, e com pouco reconhecimento profissional e apoio social. A cena da música veio primeiro, o design misturou-se nela e tornou-se a minha profissão. Mas a música é uma paixão desde que era adolescente e ia para as escadas da igreja da Baixa, onde as gerações mais velhas se juntava para beber copos, a compor ali no momento com guitarras. Ver o João Alexandre, dos Ibéria e o Miguel Patrício (com quem tive bandas mais tarde) tocarem o “Psicopata”, ou “Entramos no castelo e virámos tudo ao contrário” (acho que nunca soube o nome da música). Isso influenciou-me bastante. Depois o primo que já falei que me emprestou o “Trout Mask Replica” do Captain Beefheart, o “Dark Side of the Moon” dos Pink Floyd, o “Rust Never Sleeps” do Neil Young e o “Beware of the Dog”, do Hound Dog Taylor, esta mão cheia de discos que são completamente diferentes, fizeram abrir a cabeça ao puto da Baixa que andava a ouvir Metal, e ainda ouve. Depois comecei a ter bandas, na escola os meus amigos começaram a tocar e a formar bandas. Nem guitarra eléctrica tinha ao início, tinha uma guitarra de caixa comprada na feira com um microfone barato colado lá dentro e ligava a um pedal de distorção Fat Cat da Ibanez que era de um amigo meu, o Faria. Ele adorava Kreator e eu odiava Kreator na altura, mas tocávamos o “Riot of Violence”, eu com a minha guitarra podre e ele com uma Explorer da Honher. Tive de fazer umas paragens nas fábricas da UFA e Fisipe nas férias de verão para comprar a minha primeira Les Paul da Maison e um aplificador Peavey na chinesa, que era uma loja que havia no metro dos Restauradores, onde a malta ia comprar instrumentos. Nos anos seguintes ia quase todos os dias da semana depois das aulas para o salão do Toninho dos Ibéria, falar de guitarras e aprender riffs com ele, enquanto ele cortava cabelos.
A minha primeira banda foi os ScudAdeus, começou com inspirações de The Cure e Joy Division com o Anica na voz. Depois tornou-se mais punk, com a entrada do Dúlio a cantar, mas na altura era rotulado como Música Moderna Portuguesa. Eramos 5 nos Scud, o Dúlio, o Dário, o Punk, o Bezana e eu. A casa dos meus pais na Baixa tinha um quintal com uma casa velha ao fundo onde montámos uma sala de ensaios e passávamos lá os dias. A minha avó ou a minha mãe ia levar-nos o lanche, nós levávamos umas cervejas e ficávamos até à noite muitas vezes, a fazer jams e a compor. Fizemos montes de projectos que nem saíram de lá. DropdreadFred, The end, Fluor, basicamente íamos trocando de instrumentos e misturando mais amigos. Depois seguiram-se os Virgem com o Miguel Patrício, o Barrocas, o Bezana, o Nelson, eu, e o Punk, que também participou neste projecto. Gravávamos maquetes no estúdio do Tintin que é hoje o Estúdio King do Picos. Dos concertos que demos, o mais inesquecível e o primeiro foi no Bar Kanto no Barreiro em 1995, que mais tarde passou a ter luz vermelha na porta. Começamos o gig com uma rede em frente ao palco pintada a pincel com a frase “somos todos tão lindos”. Quando a rede caiu, alguém nos atirou um monte de pétalas de rosa, foi mágic.

Virgem ao vivo
Virgem ao vivo, Bar Kanto, 1995

Mais tarde, fizemos os Frente com o Miguel Patrício, o Luís Alvoeiro, o Cajo, o Rui e eu. Ensaiávamos no estúdio novo do Tintin. O Miguel Patrício, que foi a alma destes dois projectos, é um dos grandes canto-autores Portugueses e poeta, que poucas pessoas conhecem, e um dos meus grandes amigos. As centenas de horas que passámos a compor, ensaiar, sonhar, os laços de empatia que criámos é uma das minhas grandes pepitas de ouro, faz parte da minha formação como pessoa.
Quando o João nasceu ainda tentei fundar um projecto com o Cajo e o Carmo, mas deixei de ter tempo para tocar e ensaiar, e parei. Aí, para não perder o contacto com a música e bandas, comecei a fazer capas de álbuns e a procurar o gozo de participar no universo de bandas com esse escape. Comecei a fazer as capas para os Miss Lava, eu trabalhava com Rafa na Ativism e ele convidou-me para fazer a capa para o primeiro álbum porque viu uma ilustração psicadélica que tinha feito sobre o Little Wing do Hendrix, e até hoje faço as capas deles. Foi uma maneira de não me desligar da música e de poder construir um universo visual para as músicas e que as pessoas vão identificar com aqueles álbuns. Mais tarde, fiz as capas para o Nelsinho (Fast Eddie Nelson) e muitos outros projectos: We are the Damned, Besta, Dollar Llama, Nicotine’s Orquestra, Suave.
O culpado de eu voltar a tocar chama-se Fast Eddie Nelson, que me telefonou a convidar para gravar o “Kick Out the Jams” para os “Sons of Chaputa”, e para o tocar ao vivo nos Penicheiros e Barreiro Rocks. E pronto, o bichinho voltou, obrigado Nelson.
Nos Lisbon South Bay Freaks, o Cajó pediu-me para fazer a capa do primeiro álbum da banda, quando os fui ver ao vivo. Adorei a inocência de garagem que eles tinham e deu-me um grande gozo ver aquilo. Liguei ao Cajó e perguntei se não precisavam de um guitarrista, basicamente ofereci-me e entrei para a banda até hoje.

O meu segundo projecto paralelo chama-se Santa Clara Blues, que nasceu fruto de uma reunião bianual de amigos da Baixa, onde alguns estão a viver fora daqui, e nasce com o dinamizador desta aventura. O Mike (Miguel Ângelo) que está em Inglaterra, encontrou em Corte Brique, um lugar perdido perto de Santa Clara com uma comunidade hippie alemã, um lugar de refugio único para nos encontramos todos. Passamos um fim-de-semana a ouvir música, beber copos, cozinhar, pescar, conversar e, nos últimos anos, a tocar. Eu e o Mike continuámos a compor por e-mail, WhatApp, Messenger, e um ano que ele cá veio convidámos o Nelsinho (Fast Eddie Nelson) a fazer dois ensaios, e ali nasceu a coisa. Depois convidámos o João Sérgio dos Ibéria para o baixo e começámos a ensaiar os três nos Barreiro, e o Mike em Inglaterra, para gravar um álbum em take directo no ArteViva num fim de semana. Descobrimos que o espaço tem uma acústica maravilhosa, fiquei apaixonado pelo resultado da gravação. Convidámos o Miguel Lima dos Soaked Lamb para fazer as capturas e misturas, que no meio do processo se tornou no quinto elemento da banda. Além de técnico é responsável pela sonoplastia e precursão no álbum. Por isso, sim, a música é uma grande paixão. E acho que é isto.

Foto de Capa: Fernando Martins

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